13.4.08

Encontro Visibilidade lésbica - registos e propostas de reflexão

Encontro dia 12 de Abril 2008
Tema: Visibilidade lésbica - (in)visibilidades e discriminações nas diferentes áreas da vida

Número de participantes: 21 pessoas (20 mulheres e 1 homem) e 3 orientadoras
Características do grupo: grupo muito heterogéneo, com idades compreendidas entre os 22 e os 47 anos.

Apresentação individual:
Cada pessoa escolheu uma frase com que se identificava. (ver: frases para apresentação individual). A apresentação individual foi feita com referência à frase escolhida e às razões pessoais da escolha.
De registar que das frases escolhidas, 13 tinham um conteúdo que valorizava uma postura de visibilidade da orientação sexual na sociedade, e 8 reflectiam posturas de invisibilidade e as dificuldades de ordem social relacionadas com a orientação sexual homossexual.

Passagem de extractos da série L Word:
Extractos apresentados

  • 8º episódio da 1ª série (00:00 a 01:59 12:00 a 14:00 24:00 a 29:00 30:30 a 32:00) – relativos ao coming out da Danna (tenista)

  • 5º episódio da 1ª série (29:10 a 33:30) – relata o momento em que o casal Bette e Tina comunicam ao pai de Bette que vão ter um filho

Foi feito um pequeno debate com o objectivo de se identificar as principais dificuldades/limitações relacionadas com a visibilidade.
O debate foi mais centrado nas dificuldades/limitações relacionadas com a visibilidade na família, uma vez que os extractos passados focavam essa temática. De qualquer forma, é de registar que a visibilidade na família foi um dos aspectos mais referidos durante a apresentação individual, tendo sido perspectivadas as vantagens e compensações dessa visibilidade quer as desvantagens e problemas que podem resultar da mesma.
Alguns dos aspectos salientados:

  • A importância da reacção das outras pessoas quando se faz pela primeira vez o coming out

  • A influência do meio/contexto familiar e respectivos valores

  • A necessidade de lidar com as expectativas dos familiares (principalmente das figuras parentais) e a consequente desilusão

  • O medo de magoar ou desiludir a família

  • O não se cumprir com o papel social esperado para o género a que se pertence

  • A existência de maior visibilidade e de mais informação disponível sobre homossexualidade, nos meios de comunicação social e na internet, e as suas consequências, nomeadamente o facilitar o assumir dos mais novos, tendo sido reportado que tal acontece cada vez mais cedo

  • A necessidade de um novo coming out , numa sucessão contínua e difícil, cada vez que se tem de tornar visível a orientação sexual

Actividade de grupo:
Dividiram-se as pessoas em dois grupos.
A cada um dos grupos foi atribuída uma posição que teve de ser defendida por todos os seus elementos.

Posição A – Ninguém tem que saber a minha orientação sexual. Ninguém tem que saber com quem tenho, ou desejo ter, uma relação. A orientação sexual faz parte da minha vida privada e só a quero revelar a alguns dos que me estão muito próximos. Assim evito muitos problemas e vivo a minha vida da forma que quero.

Posição B – A minha orientação sexual deve ser algo que é público. Tal como acontece com a heterossexualidade, deve ser naturalmente do conhecimento da família, dos amigos, das diversas pessoas no trabalho. Só assim viverei a minha vida de forma completa. Sem me esconder. Com aqueles que gosto e quero nos momentos e espaços do dia-a-dia.

Foram sendo apresentados argumentos por vários elementos de cada grupo, que tentaram defender a sua posição. O debate foi animado e com algum sentido de humor :-)
No final, foi feita uma discussão geral em que se reflectiu sobre as dificuldades de defender as respectivas posições, quando não eram coincidentes com as posições pessoais.

Como actividade final do encontro, identificaram-se dois lados opostos da sala com as posições A e B e pediu-se às pessoas que se colocassem no local com que se sentiam identificadas. As pessoas distribuíram-se entre o centro da sala e o lado da posição B. Este posicionamento demonstrou uma prevalência da posição que assume a visibilidade da orientação sexual como algo importante, necessário e positivo.
No entanto, é importante referir que durante o diálogo estabelecido ao longo do encontro foi evidente que, embora as pessoas considerem esta posição como a mais desejável, um número significativo não a consegue colocar em prática no seu dia-a-dia.

Posição em termos de visibilidade:
Durante o encontro foi pedido às pessoas para escreverem em folhas que circulavam as suas informações relativamente à idade, habilitações literárias, profissão. Foi também pedido que registassem a sua posição numa escala de visibilidade em vários contextos (amigos, trabalho, família).


Propostas para discussões futuras e comentários no blog:

  • Onde/Com quem é mais difícil assumir e ser visível: Amigos, família, trabalho?
  • Sempre se sentiram na vossa actual posição em relação à necessidade de visibilidade da orientação sexual homossexual, ou tem havido variações?
  • Quais os factores que influenciaram estas variações?


5 comentários:

Anónimo disse...

Boa tarde,gostei imenso da reuniao e venho por isso fazer o meu comentario.vou começar por dizer uma frase que ouvi muito esta semana."QUE PERCAM ESSE MEDO PARA QUE SEJAM VERDADEIRAMENTE LIVRES". aprendi algumas coisas nessa reuniao, como por exemplo, que nem toda a gente pode ser assumida como eu e cada caso é um caso.cada pessoa faz o que lhe convem para viver da melhor maneira possivel. pois acho que se toda a gente fosse natural e nao fizesse um drama do que lhes acontece viviam muito melhor.temos de ser positivas e perder o medo. Desde que tenho a certeza que sou lésbica que sou assumida. Acho que é mais dificil ser assumida no trabalho porque muitas vezes pode trazer consequências para as quais não conseguimos arranjar uma solução prática. beijinhos e obrigada por terem organizado a reuniao.. ate à proxima :)
Xana Sousa (motorista tir :P)

Anónimo disse...

A privacidade é um direito. A materialização essencial da orientação sexual é concretizada no âmbito da esfera privada. Não existem razões objectivos para o medo de sermos o que somos porque ninguém tem o direito de se intrometer na privacidade de ninguém.Perceber isto ajuda muito a sair do armário.

tagarelante disse...

# A influência do meio/contexto familiar e respectivos valores

# A necessidade de lidar com as expectativas dos familiares (principalmente das figuras parentais) e a consequente desilusão

# O medo de magoar ou desiludir a família

# O não se cumprir com o papel social esperado para o género a que se pertence



estes 3 pontos sao o q realmente "me lixam". Os meus amigos, sabem todos. Os meus conhecidos, sabem muitos (ou quase todos!). Os meus colegas de trabalho n sabem, pq n calhou, pq nc me viram com a mh namorada, sei la. N faço esforço para esconder em presença de ng (pais e família fora deste contexto) mas tb n me sinto na obrigaçao de dizer a torto e a direito. quem perceber percebeu, quem tem duvidas e quiser perguntar, pergunte, quem percebeu e quiser falar, q fale.

mas em relaçao aos pais n sei q fazer ou como fazer... por um lado acho q ja estará na altura, tenho 25 anos e um relacionamento sério e estavel (ainda só tem um aninho, va... mas desenha-se forte!). sou filha única, os pais desconfiam, meio social conservador, católico e algo "elitista" (e já sao umas quantas expectativas q n correspondi e umas quantas desilusões que fui/vou provocando) e neste momento os meus pais so me falam de terem netos e do meu casamento e de eu arranjar namorado....

vai ser um grande grande golpe... e sei q n vao reagir nada bem. n tenho medo q me ponham fora de casa, a minha independencia, com maior conforto ou menor, ja está garantida. o que me chateia mesmo é a dor que lhes vou provocar...

:) desculpem o desabafo, esta é "aquela" questão....

Filipa disse...

A privacidade é um direito. Concordo. O problema é que muitas vezes esse direito à privacidade é usado apenas como desculpa para disfarçar o medo que sentimos de ser verdadeiros connosco e com os outros. Mesmo assim continua a ser um direito, só que desta vez pouco saudável acho. Mas o mais importante é, sem dúvida, sermos felizes independentemente da maneira que escolhermos para o conseguir.
Nem sempre fui adepta da visibilidade. Mas, à medida que fui ultrapassando obstáculos, fui percebendo que não é possível viver da maneira dita "normal" sem que as pessoas saibam. Porque há sempre alguém que faz uma pergunta mais indiscreta, que vê alguma coisa, que nos encontra na rua com a nossa namorada e pergunta quem é.. O que fazemos? Mentimos porque queremos privacidade? Não sei, sinceramente, se é boa solução.. Depende também da maneira que escolhemos viver..
Ser visível na família e no trabalho é sempre mais complicado porque estamos numa posição menos favorável e qualquer reacção negativa da outra parte pode ter consequências, muitas vezes, graves. Isto porque, normalmente, somos dependentes destas pessoas ou porque temos um enorme medo de ser rejeitadas, falo da família neste caso.
Acho que todas temos um papel importante no futuro de todas nós. Independentemente da posição que tomemos em termos de visibilidade por isso.. sejam felizes! :) e tentem educar os mais novos no que diz respeito a este assunto.. Eles são um dos elementos chave desta mudança..
Até à próxima reunião.. :)
Um beijo

BrokenAngel disse...

Oi. infelizmente o mail foi parar ao "bulk", mas mesmo assim, é difícil ir a essas reuniões...

ainda bem que existem e espero que se continue a ajudar muita gente...

cumprimentos