4.4.07

Educação Sexual e Valorização da Diversidade

Explicitámos, desde o início deste espaço, que valorizamos a diversidade, nomeadamente de opiniões e de expressões da sexualidade. O modelo de educação sexual em que acreditamos e com que trabalhamos:

  • respeita o direito à diferença e a pessoa do outro, nomeadamente os seus valores, a sua orientação sexual e as suas características físicas;
  • promove a igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres;
  • reconhece e promove o respeito pelas diferentes expressões da sexualidade ao longo do ciclo da vida;
  • rejeita as expressões de sexualidade que envolvam violência ou coacção, ou relações pessoais de dominação e de exploração.
  • Trata-se do modelo de educação sexual com que a Associação para o Planeamento da Família sempre tem trabalhado e que se encontra expresso em vários dos seus materiais informativos.
    A intervenção educativa baseada neste modelo tem sido, no entanto, seriamente limitada pelo facto dos materiais educativos disponíveis em Portugal apresentarem modelos estereotipados e normativos de corpos, famílias, relações amorosas, e expressões da sexualidade. Modelos que não permitem a cada criança, jovem ou pessoa adulta a sua identificação com o que está representado e, portanto, valorizado. Até há bem pouco tempo, as fotografias e desenhos dos materiais educativos, incluindo os manuais escolares, não representavam a diversidade, que existe e que enriquece a realidade: diversidade de aparências, diversidade racial e étnica, diversidade de famílias e de formas de viver as relações afectivas e amorosas...


    Uma situação interessante para reflectirmos é a diversidade de repostas que obtemos de crianças do 1º ciclo, quando questionadas sobre como é constituída uma família e como são constituídas as famílias que eles conhecem, ou sobre como nascem e como se fazem os bebés. Esta diversidade de respostas é representativa da diversidade da realidade. Não obstante, são ainda muito pouco numerosos os materiais educativos que representam esta mesma realidade quando abordam estes temas.

    Por outro lado, e referindo uma situação que quase pareceria caricata, se não fosse promotora da ignorância e da desigualdade, também só na última meia dúzia de anos, começou a ser possível encontrar em Portugal materiais escolares em que fossem apresentados os órgãos sexuais externos femininos. Note-se que, no que se refere aos órgãos sexuais masculinos, sempre foi fácil encontrar, em tais materiais, representações tanto dos órgãos externos como dos órgãos internos.

    Este tipo de exclusões e discriminações têm diminuído, mas estão ainda longe de acabar. Temos, aliás, analisado algumas outras neste espaço “Sexualidades no Feminino”: por exemplo, quando falámos de sexo mais seguro entre mulheres, realçámos a falta de informação sobre esta questão quando comparada com a quantidade de informação disponível sobre sexo mais seguro entre homens ou entre homens e mulheres.

    Em educação sexual, o silêncio sempre foi uma estratégia utilizada. Uma estratégia que não significava ausência de educação sexual. Significava, e infelizmente ainda significa em muitas situações, que não se deve falar de algumas questões, porque supostamente algo de muito errado está ligado a elas. Nomear, explicitar, determinadas questões em detrimento de outras, significava, e significa, não ser inclusivo e promover a desigualdade de oportunidades.