30.10.08

Encontro LES dia 25 de Outubro 2008 – apontamentos breves

(convidamos-te a comentares e a acrescentares as tuas opiniões)

Tema: Direitos LGBT - das representações à realidade

Número de participantes: 14 mulheres

Após uma breve apresentação de cada participante, foi feita a apresentação e introdução ao tema.

De seguida, foi lançada uma proposta de trabalho em pequenos grupos - realização de cartaz com o registo da percepção que têm dos direitos LGBT a dois níveis:
• legal (identificação dos direitos que temos na lei);
• social (esses direitos estão reflectidos no social, na vida real / existe reconhecimento da igualdade nas várias áreas da vida?).

Após um momento de animada discussão em cada um dos grupos, foram apresentadas as conclusões.

O primeiro grupo apresentou o seguinte cartaz:

Optou pela organização em 3 áreas: direitos não adquiridos / direitos adquiridos não aplicados / direitos adquiridos.
Foi feita uma reflexão relacionada com o direito à privacidade e à não exposição pública da orientação sexual da pessoa. A visibilidade deve ser uma opção e não imposta ou divulgada por outros. Uma das situações que suscitou esta reflexão foi o registo das uniões de facto. Foi referido o exemplo da falta de formação dos/as funcionários/as de várias entidades públicas no que se refere ao direito à privacidade dos/as utentes, sendo, por vezes, assuntos privados discutidos em alta voz dentro das repartições. Outra situação de exposição “obrigatória” é a denúncia de discriminação por orientação sexual no local de trabalho. Embora o código de trabalho actual obrigue que seja a entidade empregadora a provar que não actuou com base na orientação sexual do/a trabalhador/a e não este/a a ter de provar que foi discriminado/a, fazer a denúncia obriga a alguma exposição pública.

O segundo grupo não apresentou cartaz, tendo optado por partilhar as suas reflexões em diálogo com todas. Alguns dos pontos focados:
 A existência de discriminação na doação de sangue, nalguns locais de recolha. Na lei não há discriminação, mas no dia a dia os/as funcionários/as responsáveis pela recolha podem ter comportamentos discriminatórios, baseados nos seus próprios preconceitos e por não existir formação sobre este assunto.
 A confrontação com a não existência de direitos em várias áreas da vida só acontece a partir de determinada idade, como por exemplo quando surgem situações relacionadas com: casamento, adopção e procriação medicamente assistida. Até certo momento da vida pode-se viver com a falsa noção de que não existe discriminação.
 A nível social é mais fácil para as lésbicas do que para os gays, devido à nossa cultura ter uma atitude diferente perante os afectos das mulheres e os dos homens. Mas esta aparente facilidade oculta uma discriminação ainda mais acentuada, a negação da sexualidade das mulheres.
 Existe muita falta de informação sobre a forma de registo das uniões de facto.
 Os Bi e os Transexuais também se sentem discriminados dentro da “comunidade LGBT”.
 Para a conquista dos direitos é mais fácil se for aberto caminho por outras pessoas, por exemplo, no caso da adopção se uma mulher solteira quiser adoptar (caso da Margarida Martins da Abraço) e lutar por esse direito, depois será mais fácil uma mulher assumidamente lésbica conseguir o mesmo direito; é uma forma gradual de conquistar os direitos. (embora a lei permita a adopção de pessoas singulares existe a percepção de que há alguma resistência nestas situações por parte dos serviços de segurança social)
 Muitas lésbicas dizem que nunca se sentiram discriminadas, porque utilizam algumas estratégias de “camuflagem”, sem nunca adoptarem uma postura de visibilidade em situações potencialmente adversas.
 Estamos todas aqui porque de alguma forma sentimos que existe discriminação, mesmo que nunca a tenhamos sentido de forma directa.
 É importante existir mudança na lei, mas não deve ser a única luta. A luta deve ser no plano social e até individual. A comunidade LGBT precisa mostrar-se mais à sociedade, o estar virada para si própria pode ser uma má estratégia.
 A educação é uma das formas mais importantes de intervir.

Depois da discussão das apresentações dos grupos, foi feita uma breve apresentação dos dados da situação portuguesa (documento em anexo)

No final do encontro foi feita a discussão e reflexão sobre as representações e a realidade dos direitos LGBT.
As propostas de discussão:
 O que falta (na lei e na sociedade)? Existem direitos prioritários? Quais?
 De que direitos sentem falta?
 Em que é que se sentem discriminad@s?
 Como promover a mudança na legislação? E na sociedade? Com que meios e que intervenções?

Alguns registos … a serem completados pelos vossos comentários:
 As pessoas LGBT têm uma característica em comum, mas têm muitas outras que os diferenciam, daí as prioridades a nível de conquistas de direitos serem diferentes (exemplo: casamento civil).
 O direito ao casamento pode abrir portas para outros direitos. Mesmo que poucos/as homossexuais venham a utilizar este direito devido à visibilidade, pode contribuir para a mudança de mentalidades na sociedade.
 O maior problema é a comunidade LGBT ser quase totalmente invisível, isto é, a grande maioria dos que convivem com pessoas LGBT, como a família, amigos/as e colegas de trabalho, nem sequer sabem da sua orientação sexual. É um pouco o “faz de conta”, o “não perguntes que eu não digo”.
 Pouca comunicação entre o movimento associativo e a comunidade LGBT.
 Existe uma comunidade LGBT? O que é? O que é que a caracteriza? Os direitos conquistam-se seguindo o que a maioria quer? Como saber o que a maioria quer?
 Devemos seguir a maioria dentro de uma minoria, que luta pelo direito das minorias … alguma confusão de conceitos e estratégias.
 Temos de trabalhar para mudar as mentalidades da sociedade mas também das pessoas LGBT.
 A primeira prioridade devia ser a lei de identidade de género. Em relação à orientação sexual já existe alguma protecção legal, mas em relação aos transexuais não existe nada.
 Muitas pessoas sentem o “seu mundo” ameaçado se os/as LGBT forem conquistando mais visibilidade e direitos. É uma mudança nas normas explícitas e implícitas de organização social. E esta sensação de ameaça é uma das maiores fontes de resistência à mudança.

22.5.08

Registos do encontro sobre "Identidade Sexual"

No início da sessão a dinamizadora, Gabriela Moita, lançou a questão para discussão: que expectativas é que cada um tem relativamente ao tema “Identidade sexual”?
Várias ideias foram surgindo:
· sexo biológico
· modelo social e papéis sociais
· identidade de género
· orientação sexual
· posicionamento num contínuo Feminino – Masculino

As várias ideias foram discutidas, sendo salientados os pontos em comum entre as várias perspectivas apresentadas.
Após este debate inicial foi feita uma proposta de actividade: cada participante foi convidada/o a escrever num papel o B.I. da sua identidade sexual.
Quando todas/os as/os participantes terminaram a tarefa, foram aleatoriamente organizados pequenos grupos. Cada grupo foi para um espaço separado com o objectivo de discutir as várias ideias, tentar identificar linhas comuns a nível conceptual e construir um pequeno sketch para exemplificar as suas conclusões.

Em grande grupo foram apresentados os vários sketches:
· 1º grupo: cada elemento tinha um material diferente (papel, pedaços de gesso, caixa de cartão, canetas, casaco) e, em simultâneo, iam transformando esses materiais, num processo de construção e desconstrução. Explicação do sketch - representação de alguns conceitos relacionados com a identidade sexual: diversidade e processo de construção/transformação ao longo da vida;
· 2º grupo: os elementos do grupo colocaram-se em círculo com as mãos estendidas para o centro, em silêncio. Explicação do sketch – liberdade de construção individual da identidade sexual; composição da identidade sexual por vários elementos diferentes; definição pela própria pessoa com aceitação de outras realidades;
· 3º grupo: entraram na sala agachados, uns mais que outros, numa ordem ascendente. Cada elemento do grupo segurava uma folha com uma “etiqueta”.(do mais baixo para o mais alto) As etiquetas, do elemento mais agachado ao elemento que estava de pé, eram as seguintes: sexo biológico papéis sociais orientação sexual Pessoa. Explicação do sketch – várias fases (componentes) da definição da identidade sexual;
· 4º grupo: O grupo apresentou oralmente a estátua de David, da autoria de Donatello, salientando o seu aspecto indefinido do ponto de vista sexual, nomeadamente as características biológicas masculinas e alguma aparência feminina, incluindo o cabelo comprido e encaracolado. Esta estátua tem levantado muitas interrogações, mas só a estátua (própria pessoa) se poderia definir, embora desperte discordâncias entre os outros.

Após a realização dos sketches foram apresentados pela dinamizadora Gabriela Moita, as componentes da identidade sexual, segundo Shivley & Dececco: sexo biológico (genótipo e fenótipo), identidade de género, orientação sexual, papéis sexuais. Foram acrescentadas pela dinamizadora as seguintes dimensões: preferências sexuais e parentalidade (capacidade reprodutora). Em função destas componentes cada pessoa foi convidada a reescrever o seu B.I. de identidade sexual. Houve, então, um momento em que os/as participantes que assim o desejaram partilharam com o grupo o bilhete de identidade que tinham construído.
De seguida, foram apresentadas por Gabriela Moita os B. I. de identidade sexual de duas personagens que ilustravam algumas combinações, pouco conhecidas, das diferentes componentes da identidade sexual.

Desenvolveu-se uma discussão alargada sobre as várias questões levantadas pelas características de cada personagem. Esta discussão incluiu a análise de algumas das dimensões da teoria Queer http://en.wikipedia.org/wiki/Queer.

No final da sessão, Gabriela Moita pediu a cada participante que dissesse uma palavra que representasse o que sentia naquele momento. De entre as diferentes expressões apresentadas pelas/os participantes, registaram-se as seguintes: mais esclarecida; arejamento; diversidade; interrogação; gosto de brincar com a palavra "queer"; necessidade de inclusão de conceitos; mais confuso - rara oportunidade de discussão; estar de fora; pensativa; em reflexão sobre os conceitos; interessante; cansada; inquieta; informativo e subjectivo; flexibilidade; reflexão/diversidade/confusão.

Deixamos a proposta de continuar o debate neste blog …

Referências:
Shively, M. G., & DeCecco. J. P. (1977). Components of Sexual Identity. Journal of Homosexuality, 3 (1), 41--48
Shively, M. G., & DeCecco. J. P. (1985). Origins of Sexuality and Homosexuality. New York : Haworth Press. (http://books.google.pt/books?id=Sra4SlUBIGgC&hl=en)
Shively, M. G., & DeCecco. J. P. (1993). Components of Sexual Identity. In L. D. Garnets, & D. C. Kim-mel (Eds.), Psychological perspectives on lesbian and gay male experiences (pp. 80-88). Chichester, NY: Columbia University Press.

1.5.08

Encontro - dia 17 de Maio de 2008

LES - Grupo de discussão de questões lésbicas

Próxima actividade:

Encontro - dia 17 de Maio de 2008 - 15h00
Tema: Identidade Sexual
Dinamizado por Gabriela Moita

Local: Porto (morada a divulgar em breve)

Nota importante:
Por limitação de espaço é necessária inscrição prévia.
As inscrições serão feitas por ordem de chegada.
Envie mail para epcferreira@gmail.com para fazer a sua inscrição.

As inscrições estão encerradas (informação actualizada a 13 de Maio)

13.4.08

Encontro Visibilidade lésbica - registos e propostas de reflexão

Encontro dia 12 de Abril 2008
Tema: Visibilidade lésbica - (in)visibilidades e discriminações nas diferentes áreas da vida

Número de participantes: 21 pessoas (20 mulheres e 1 homem) e 3 orientadoras
Características do grupo: grupo muito heterogéneo, com idades compreendidas entre os 22 e os 47 anos.

Apresentação individual:
Cada pessoa escolheu uma frase com que se identificava. (ver: frases para apresentação individual). A apresentação individual foi feita com referência à frase escolhida e às razões pessoais da escolha.
De registar que das frases escolhidas, 13 tinham um conteúdo que valorizava uma postura de visibilidade da orientação sexual na sociedade, e 8 reflectiam posturas de invisibilidade e as dificuldades de ordem social relacionadas com a orientação sexual homossexual.

Passagem de extractos da série L Word:
Extractos apresentados

  • 8º episódio da 1ª série (00:00 a 01:59 12:00 a 14:00 24:00 a 29:00 30:30 a 32:00) – relativos ao coming out da Danna (tenista)

  • 5º episódio da 1ª série (29:10 a 33:30) – relata o momento em que o casal Bette e Tina comunicam ao pai de Bette que vão ter um filho

Foi feito um pequeno debate com o objectivo de se identificar as principais dificuldades/limitações relacionadas com a visibilidade.
O debate foi mais centrado nas dificuldades/limitações relacionadas com a visibilidade na família, uma vez que os extractos passados focavam essa temática. De qualquer forma, é de registar que a visibilidade na família foi um dos aspectos mais referidos durante a apresentação individual, tendo sido perspectivadas as vantagens e compensações dessa visibilidade quer as desvantagens e problemas que podem resultar da mesma.
Alguns dos aspectos salientados:

  • A importância da reacção das outras pessoas quando se faz pela primeira vez o coming out

  • A influência do meio/contexto familiar e respectivos valores

  • A necessidade de lidar com as expectativas dos familiares (principalmente das figuras parentais) e a consequente desilusão

  • O medo de magoar ou desiludir a família

  • O não se cumprir com o papel social esperado para o género a que se pertence

  • A existência de maior visibilidade e de mais informação disponível sobre homossexualidade, nos meios de comunicação social e na internet, e as suas consequências, nomeadamente o facilitar o assumir dos mais novos, tendo sido reportado que tal acontece cada vez mais cedo

  • A necessidade de um novo coming out , numa sucessão contínua e difícil, cada vez que se tem de tornar visível a orientação sexual

Actividade de grupo:
Dividiram-se as pessoas em dois grupos.
A cada um dos grupos foi atribuída uma posição que teve de ser defendida por todos os seus elementos.

Posição A – Ninguém tem que saber a minha orientação sexual. Ninguém tem que saber com quem tenho, ou desejo ter, uma relação. A orientação sexual faz parte da minha vida privada e só a quero revelar a alguns dos que me estão muito próximos. Assim evito muitos problemas e vivo a minha vida da forma que quero.

Posição B – A minha orientação sexual deve ser algo que é público. Tal como acontece com a heterossexualidade, deve ser naturalmente do conhecimento da família, dos amigos, das diversas pessoas no trabalho. Só assim viverei a minha vida de forma completa. Sem me esconder. Com aqueles que gosto e quero nos momentos e espaços do dia-a-dia.

Foram sendo apresentados argumentos por vários elementos de cada grupo, que tentaram defender a sua posição. O debate foi animado e com algum sentido de humor :-)
No final, foi feita uma discussão geral em que se reflectiu sobre as dificuldades de defender as respectivas posições, quando não eram coincidentes com as posições pessoais.

Como actividade final do encontro, identificaram-se dois lados opostos da sala com as posições A e B e pediu-se às pessoas que se colocassem no local com que se sentiam identificadas. As pessoas distribuíram-se entre o centro da sala e o lado da posição B. Este posicionamento demonstrou uma prevalência da posição que assume a visibilidade da orientação sexual como algo importante, necessário e positivo.
No entanto, é importante referir que durante o diálogo estabelecido ao longo do encontro foi evidente que, embora as pessoas considerem esta posição como a mais desejável, um número significativo não a consegue colocar em prática no seu dia-a-dia.

Posição em termos de visibilidade:
Durante o encontro foi pedido às pessoas para escreverem em folhas que circulavam as suas informações relativamente à idade, habilitações literárias, profissão. Foi também pedido que registassem a sua posição numa escala de visibilidade em vários contextos (amigos, trabalho, família).


Propostas para discussões futuras e comentários no blog:

  • Onde/Com quem é mais difícil assumir e ser visível: Amigos, família, trabalho?
  • Sempre se sentiram na vossa actual posição em relação à necessidade de visibilidade da orientação sexual homossexual, ou tem havido variações?
  • Quais os factores que influenciaram estas variações?


6.4.08

Encontro

Encontro - dia 12 de Abril de 2008 - 15h00

Tema: Visibilidade lésbica - (in)visibilidades e discriminações nas diferentes áreas da vida

Local: Rua do Paraíso, 250 - Porto - instalações gentilmente cedidas pela UMAR (clicar para ver mapa)

(a estação de metro Faria de Guimarães fica muito perto do local do encontro)


Não é necessária inscrição prévia.

31.3.08

Educação sexual e prevenção do cancro

Viver a sexualidade de forma gratificante e saudável.

O folheto denominado “mulheres que amam outras mulheres” (ver referência no final do post) convida a revisitar, ainda uma outra vez, aquele bem conhecido objectivo da educação sexual. Esta publicação foi produzida em inglês, francês e espanhol, pela ILGA internacional.

O referido folheto convida a afirmar, também mais uma vez, a urgência de tornar visíveis todas as formas de discriminação do lesbianismo e das mulheres lésbicas, para que a luta contra esta discriminação possa ser mais eficaz. A invisibilidade das relações lésbicas e das mulheres lésbicas é, no caso deste folheto, abordada na vertente das suas potenciais consequências para a saúde das mulheres, nomeadamente no que diz respeito ao cancro da mama e ao cancro do útero.

Porque a prevenção do cancro da mama e a prevenção do cancro do útero são de fundamental importância para todas as mulheres, se o facto de existirem relações lésbicas, que se pretendem manter invisíveis, compromete as idas regulares à/ao ginecologista, a realização dos também regulares exames de rastreio ou uma eficaz comunicação com o/a médico/a, estamos perante um claro aumento dos riscos para a saúde das mulheres.

Pensando nesta questão, torna-se claro que a educação sexual deve trabalhar as competências de todas as mulheres, incluindo as que têm relações sexuais com outras mulheres e as que não têm relações sexuais, de forma a que possam cuidar de forma segura da sua saúde. A educação sexual não pode ignorar que muitas jovens e mulheres podem ter receio de revelar a sua orientação sexual numa consulta médica. Por recearem reacções homofóbicas ou que a visibilidade da sua orientação ultrapasse o consultório médico.

Como em todas as questões e problemas da educação sexual, não existe uma só forma de resolver a situação. Cada pessoa, desejavelmente, encontrará a sua. Mas, para que isso aconteça, será necessário que cada jovem, cada mulher, tenha acesso a informação sobre os riscos de não ir regularmente a uma consulta de ginecologia e sobre os seus direitos quanto ao sigilo médico. Será também importante que tenha a possibilidade de debater as possíveis consequências, para a sua saúde e bem-estar, das decisões relativas às diferentes dimensões da sua sexualidade.

O debate de questões pessoais, para além dos espaços familiares e de amizade, só é possível em espaços de aconselhamento. Mas o debate das questões nos seus aspectos gerais, e não pessoais, deverá acontecer nos espaços de educação sexual, nomeadamente na escola. Para ser inclusiva, a educação sexual deve tratar os seus diversos temas tornando explícitas as diferentes orientações sexuais e a diversidade de questões e problemas que as pessoas encontram na vivência das suas sexualidades.


ILGA (2007). Breast and Uterus Cancer. Available at http://www.ilga.org/news-upload/BreastBrochureENFinal.pdf

ILGA (2007). Pour toutes les femmes qui aiment les femmes… http://www.ilga.org/news-upload/Ilga-dpliant-Fr.pdf

ILGA (2007). Para todas las mujeres que aman a mujeres... Available at http://www.ilga.org/news-upload/BreastBrochureESFinal.pdf

16.1.08

Famílias homossexuais e homoparentalidade nos livros de educação sexual para crianças - 2ª parte
Vamos falar de sexo … com as crianças

Falar de sexualidade às crianças não é tarefa fácil. Temos de utilizar uma linguagem clara e acessível sobre um assunto que não é simples e que envolve muitas dimensões da nossa vida e da vida das outras pessoas. É necessário organizar as nossas ideias antes de poderemos construir um discurso coerente sobre este tema. Para o fazermos é importante o recurso a fontes de informação de confiança.
Nesse sentido, vimos propor a leitura de um livro que consideramos particularmente interessante na forma como aborda a sexualidade nas suas diferentes vertentes, e que em relação à homossexualidade preocupa-se com o rigor científico e foge os preconceitos.
Uma das qualidades do livro é a utilização de duas personagens (um insecto e uma ave) que vão verbalizando algumas das possíveis questões, dúvidas e anseios das crianças ao debruçarem-se sobre este tema. Esta estratégia facilita a adesão das crianças ao livro, por verem nele reflectido a sua forma de sentir e pensar, que podem ser diferentes de criança para criança. Por exemplo, a certa altura a ave diz “A minha família saiu do ninho e foi-se embora”, e o insecto responde “A minha mantém-se unida na colmeia”.
Analisando detalhadamente o livro encontramos muitos exemplos interessantes que importa realçar.
Quando aborda a questão do desejo sexual (página 13) refere explicitamente, e coloca ao mesmo nível, o desejo sexual por alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto: “Têm “fraquinhos” por pessoas do mesmo sexo, bem como por pessoas do sexo oposto, por pessoas da mesma idade, mais velhas ou mais novas. Ter um “fraquinho” por alguém é perfeitamente normalNa abordagem que faz da relação sexual (página 14) refere a relação com penetração entre um homem e uma mulher, mas ressalva: “… é apenas uma das maneiras de exprimir o amor”. São claramente abordadas outras formas de contactos sexuais, não limitando a descrição da relação sexual à penetração, nem faz juízos de valor (infelizmente demasiado presentes nas abordagens da sexualidade) no sentido de a penetração ser o acto final e mais profundo ;-).”
Pormenor importante de realçar é a utilização de uma imagem que apresenta duas personagens que se acariciam, com características algo indefinidas relativamente ao sexo, que podem ser entendidas como sendo dois rapazes.
Tem um capítulo sobre heterossexualidade e homossexualidade (página 16). Não só sobre homossexualidade. E esta diferença é importante, as orientações sexuais são abordadas ao mesmo nível. Não aborda a homossexualidade, num capítulo à parte, como algo que é diferente e merece um tratamento diferente. Esta opção coloca as orientações sexuais ao mesmo nível.
Refere explicitamente a palavra lésbica, o que é raro acontecer. Normalmente só aparece a palavra homossexual. Também é referida de forma explícita a bissexualidade.
Mais importante ainda é o facto de abordar e analisar o impacto do que as pessoas sentem ou pensam sobre a homossexualidade e das reacções negativas que existem na sociedade (página 17): “Algumas pessoas não aceitam os homens homossexuais nem as mulheres lésbicas. Até há quem odeie os homossexuais só por eles serem homossexuais”.
Fala de sexualidade e neste contexto fala na vida quotidiana. Esta opção reflecte uma abordagem que encara a sexualidade como algo que faz parte integrante da nossa vida a todos os níveis. Assim, na página 18, relatam-se situações concretas do quotidiano em que se explicita a semelhança das vivências independentemente da orientação sexual: “A vida quotidiana de uma pessoa – formar um lar, ter amigos e divertir-se, criar filhos, trabalhar, estar apaixonado – é basicamente a mesma, sendo ela heterossexual, homossexual ou bissexual.”
As ilustrações têm um papel importante porque ajudam e complementam a transmissão das ideias apresentadas pelo texto.
Tem um capítulo que aborda “Todos os tipos de família” (página 50). Fala da enorme diversidade de famílias, incluindo explicitamente pais e mães homossexuais.
Aborda outros temas que normalmente não são referidos de forma explícita, como por exemplo a sexualidade na terceira idade (página 13): “As pessoas têm relações sexuais até terem uma idade bastante avançada.”
Realça-se, para terminar, que este livro sobre sexualidade escolhe para tema do capítulo final “Manter-se saudável” (página 83), falando da importância dos cuidados a ter com o corpo, mas também da importância de cuidarmos das nossas relações, das amizades e da importância do “respeito por nós próprios e pelas nossas próprias decisões”.
Um livro que torna significativamente mais fácil falar de sexualidade com as crianças e jovens.

Bibliografia:
Harris, Robie H., Michael, Emberley (1994). Vamos falar de sexo. Lisboa: Terramar.

Todas as ilustrações são retiradas do livro e da autoria de Michael Emberley