7.9.06

Sexo mais seguro: Da informação, às decisões e comportamentos

Para que cada mulher, decida utilizar, e utilize, métodos de sexo seguro, tornam-se necessárias várias condições:

Conhecer quais os comportamentos sexuais que não são seguros, os riscos associados e as suas consequências. A informação sobre as formas de contaminação das Infecções Sexualmente Transmissíveis é uma condição essencial para que os riscos se tornem conscientes. No entanto, quando se trata de comportamentos sexuais entre mulheres, as dificuldades em obter informação clara e objectiva é acrescida. Como já referimos em post anterior, muitos folhetos informativos dedicados à temática das IST não referem a existência de comportamentos sexuais entre mulheres. Outros, quando os referem, não os consideram como sendo de risco. Ainda noutros casos, quando encontramos folhetos que identificam alguns comportamentos sexuais entre mulheres como sendo de risco, a informação apresentada é frequentemente inconsistente e até contraditória, como é o caso da informação sobre os riscos associados ao sexo oral. Para tentarmos contribuir para mudar esta situação estamos a desenvolver este projecto no sentido de produzirmos informação completa, clara e objectiva sobre os riscos de contaminação de ISTs em comportamentos sexuais entre mulheres.

Conhecer os métodos que tornem os comportamentos sexuais mais seguros. Conhecer os métodos inclui conhecer o seu grau de segurança e as suas formas de utilização. Inclui, ainda, estar sensorialmente familiarizada com os mesmos. Mas se os métodos e materiais não estão divulgados nem são comercializados é difícil as mulheres terem oportunidade de os conhecerem e de os experimentarem. Aliás os métodos e materiais existentes estão pouco desenvolvidos, sendo na sua maioria adaptações de materiais pensados para outros fins.

Ter acesso aos métodos, ou seja, ser fácil e não demasiado dispendioso adquiri-los. Alguns exemplos das dificuldades com que uma mulher se pode deparar: se quiser comprar luvas de látex, terá que optar por uma farmácia e comprar um produto que foi concebido tendo em conta outro tipo de prática - as luvas de látex utilizadas na saúde não estão pensadas para um relacionamento sexual, o seu paladar não foi pensado no sentido de se poder levar as luvas à boca; se quiser utilizar barreiras de látex então a situação é muito mais complicada porque a sua comercialização é muito restrita e de difícil acesso.

Ser capaz de antecipar a necessidade de utilização dos métodos de sexo seguro, o que inclui a capacidade de reconhecer que as relações sexuais podem acontecer de forma inesperada. Só esta consciência prévia pode garantir que cada pessoa tenha acesso aos métodos de que necessita, nos momentos em que deles necessita.

Desejar comunicar e ser capaz de comunicar sobre os métodos com a parceira, antes e/ou durante as relações sexuais. Mas para que este tipo de comunicação exista é necessário que estejam desenvolvidas competências para comunicar sobre o corpo e sobre a sexualidade. Não nos parece provável que se possa comunicar de forma fácil sobre métodos de sexo seguro com a parceira, se não se conseguir falar simplesmente do corpo, dos sentimentos, dos desejos, etc. Os métodos são apenas uma parte desse diálogo. E esta é uma aprendizagem que tem de ser feita por todas numa cultura que não nos prepara para encarar a sexualidade como algo bom e gratificante.

O encontro “Comportamentos sexuais entre mulheres: representações, práticas e fantasias” realizado em Julho no Porto, em colaboração com as Panteras Rosa, foi mais uma das etapas deste projecto sobre sexo seguro. Citamos, por isso, parte de um comentário feito pela Patrícia das Pantera Rosa:
“A primeira parte visava uma reflexão sobre a (auto) representação dos comportamentos sexuais entre mulheres: a identificação de práticas sexuais entre mulheres, a avaliação do grau e dos factores de risco de transmissão de IST's (infecções sexualmente transmissíveis) associados, a identificação também da frequência percepcionada dessas práticas sexuais entre mulheres, e formas de protecção.
Na segunda parte, compararam-se e discutiram-se os resultados dos dois grupos; apresentou-se e discutiu-se também o folheto "Lésbicas com muito prazer - Pequeno guia de sexo lésbico mais seguro" (disponível em www.panterasrosa.com/sexolesbico.html), foram levantadas algumas limitações e sugeridas alterações para o folheto.
Para uma próxima sessão, ficou a parte mais prática, nomeadamente a discussão, apresentação e manuseamento das formas de protecção.
Esta sessão será repetida, em formato alargado e incluindo já a componente prática, em Lisboa num futuro próximo.”