11.4.06

Heterossexismo

Heterossexismo foi um termo proposto por Stephen Morin em 1977, e refere-se à ideia de que a heterossexualidade é a orientação sexual “normal” e “natural”. Ao considerar a heterossexualidade “normal”, contrapõe-se a ideia de que as outras orientações sexuais (homossexualidade e bissexualidade) são um desvio à norma e reveladoras de perturbação. Não são encaradas como um dos aspectos possíveis na diversidade das expressões da sexualidade humana. O considerar a heterossexualidade como “natural”, aponta para algo inato, instintivo e que não necessita de ser ensinado ou aprendido. O termo heterossexismo também é utilizado para designar os preconceitos existentes contra os homossexuais, bem como os comportamentos deles decorrentes.

Temos como algumas das principais consequências do heterossexismo, o validar que existe um sistema de papéis de género dual (masculino e feminino) de acordo com o sexo biológico, e o considerar que todas as pessoas são heterossexuais, salvo prova em contrário.

O heterossexismo funciona através de um sistema de negação e discriminação – a sociedade tende a negar a existência da homossexualidade, tornando-a invisível (em quantos manuais escolares existem referências neutras ou positivas à homossexualidade?) e tende a reprimir e discriminar todos aqueles que se tornam visíveis.

Quando se trata do meio escolar, o heterossexismo institucional apresenta características específicas. De acordo com a nossa Constituição, a escola deve proporcionar um espaço seguro a todos os jovens, educar para a igualdade de oportunidades e desenvolver o espírito da tolerância e o respeito mútuo. (artigo 73º)

O primeiro passo para desmantelar o heterossexismo nas nossas escolas é nomeá-lo, identificá-lo, e oferecer alternativas às práticas tradicionais a que já nos habituámos. Como forma de concretizar o que atrás afirmámos, vamos analisar um tipo de comportamento que podemos observar no meio escolar: as agressões verbais. Por exemplo, é considerado um insulto chamar “fufa” a uma rapariga ou “maricas” a um rapaz. Muitos jovens que são alvo destes insultos, não o são por causa da sua orientação sexual, mas por causa da sua diferença – seja a forma do corpo, estilo pessoal, raça, género, comportamento, etc. O que queremos salientar, é o conteúdo insultuoso da expressão, e não a sua ligação a realidades concretas.

A agressão verbal, mesmo quando limitada à provocação, pode interferir negativamente com o desenvolvimento psicossocial dos jovens. As palavras magoam, e têm o poder de afectar negativamente a auto estima e provocar sentimentos de insegurança. Especialmente quando os incidentes pontuais se transformam num padrão.

Ignorar, permitir ou desculpar este tipo de comportamento, reafirma a ideia de que é lícito agredir verbalmente alguém, e reafirma a conotação pejorativa das expressões utilizadas (reforçando o heterossexismo).

Como alternativa achamos que, nestas situações, uma proposta de intervenção positiva e eficaz pode ser: interromper o comportamento e educar os jovens nele envolvidos. É importante esclarecer acerca dos termos utilizados como forma de agressão, fornecendo informação actualizada e baseada em conhecimentos científicos. Deve ser clarificado que a homossexualidade não é uma perturbação ou anomalia. E transmitir a ideia de que a orientação sexual pode variar dentro de um continuo que vai da homossexualidade exclusiva até à heterossexualidade exclusiva, passando por várias formas de bissexualidade. O essencial é educar no sentido do reconhecimento da diversidade da sexualidade humana, e do respeito pelo outro.

Para se desenvolver este tipo de comportamentos, convém reflectir em como todos nós fomos sujeitos a uma educação repleta de modelos quase exclusivamente heterossexuais. E estes modelos estiveram presentes não só na família e na escola, mas também na rua, na comunicação social, etc. O mundo à nossa volta, a televisão, os filmes, as revistas, estão permanentemente a bombardear-nos com imagens e estereótipos de relações amorosas entre um homem e uma mulher. As músicas, filmes e livros que falam de amor e sexualidade, são quase na sua totalidade sobre relações heterossexuais. Perante este cenário, não é expectável que se consigam desenvolver competências que nos permitam ter uma atitude não-heterossexista.

Por isso, tendo em conta o momento actual em que tanto se fala de projectos de concretização de políticas de educação sexual nas escolas, consideramos que uma das medidas prioritárias é disponibilizar formação aos agente educativos, ou seja, a todos os cidadãos e cidadãs.